O carteiro bateu à porta e entregou-me o molho habitual da correspondência, de onde seleccionei imediatamente o envelope azul com cheiro a oficina. Gostei da caligrafia cartoon e de saber que veio do Porto. (por acaso, ouvi há pouco na rádio, a “Pronúncia do Norte” dos GNR).
Ela veio assim ter às minhas mãos, para meu espanto. Saída do envelope azul, apareceu vermelha, vibrante e texturada, reconheci-a e sorri-lhe. Cheirei-a, afinal o cheiro era dela e não do envelope, pensei que cheirasse a acrílico, mas cheira a oficina de pintura, a sítio de experimentação. Passei os dedos pela superfície para lhe sentir o corpo, primeiro devagar, depois com vigor, até sentir a vibração.
Está um dia mesmo bom de primavera, levei-a a arejar, a passear de carro para apanhar um pouco de sol, depois de ter estado fechada dentro do envelope, pensei que gostasse.
É uma mulher em tensão, na iminência da libertação. Orgásmica ou raivosa, não sei bem, ambas as manifestações são muito parecidas por vezes. Tem muito de agressiva, de musculada, de masculina. E um coração enorme, que vai do peito ao púbis. Está a gritar, não sei se de dor se de prazer, se calhar das duas coisas. Inquieta-me, quero arranjar-lhe um sítio confortável onde ela possa ficar e expressar-se à vontade.
É inevitável pensar como ela terá surgido e materializado no canson, qual a sua verdadeira história. Vou pôr-lhe um contraplacado por trás e colocá-la aqui no canto da janela, por cima dos CDs, para que possamos olhar uma para a outra e para que possa olhar lá para fora e a possam ver…
Obrigada!
5 comentários:
eh la sr António, que texto uau
:)
bolas... picaste-me a curiosidade ehehehe
que belas palavras !!
hummmm
hummmm...
cheira-me que ofereceste uma pintura a quem te agradeceu de uma optima maneira!!
k bom!!!
bjnhsssssss toonny!!
UAU!Belo texto!
Tás inspirado António!
Continua!:)
Tu afinal até 'pintas' umas coisas pah ;D
Um abraço
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